sábado, 21 de março de 2009

O outro

Por vezes alguns tentam saber quem são, somos a invenção dos outros, porque a nossa auto-consciência provém do meio em que estamos inseridos, alguns indivíduos no auge do seu auto-ego enaltecem os seus atributos, ignorando que os seus atributos são as qualidades que lhe são reconhecidas. A nossa existência é a existência do outro, mesmo quando optamos por uma visão individualista, que pressupõe o isolamento do meio em que estamos inseridos ou uma ruptura com o modelo comunitarista de uma determinada sociedade, por isso todo o tipo de isolamento é uma fuga do outro e consequentemente uma fuga de nós próprios. Nos medos sombrios das nossas almas agarramo-nos ao mais certo das incertezas para encontrarmos uma razão da nossa existência, de modo a recebermos o prémio, ao lado dos outros por toda a eternidade, preferindo as nossas pessoas, antes de alcançar uma sentença final é necessário agir para com os outros, tanto nas boas acções, como nas más acções. Quando o nosso prazo de validade se esgota é o fim, talvez seja a última oportunidade de estar connosco, apesar de ser a hora a marcar o nosso momento final. Algumas figuras tribais levam os outros a um retiro, onde só se vai, sem uma volta determinada, procurando a constante presença do outro, mesmo sem a certeza de uma partilha viva destas vidas, vale sempre uma companhia mesmo sem vida, mostrando o medo de acabar só, quando a vida se vai e a certeza padece, sem saber onde vamos e para onde vamos e se vamos mesmo para alguns lados. Isto é a demonstração de eterna insignificância do homem face às leis da natureza, mas a nossa permanente procura de permanecer pendurados nos outros, tornando-nos singulares na espécie que habita o planeta terra, este elo que nos obriga a viver amarrados uns aos outros, provoca o velho dilema de sociabilidade dos problemas, nenhum problema é de uma só pessoa, porque os efeitos são sempre colaterais.

Sérgio

domingo, 1 de março de 2009

A viagem do elefante

Há poucos dias terminei a leitura da mais recente obra do nobre escritor José Saramago A viagem do elefante, que por muitos foi elogiada e enaltecida.
Todavia, posso afirmar que fiquei um tanto ou quanto desapontada pois, apesar de ter lido facilmente o livro, a narrativa não me cativou e não me fez querer ler mais e mais até descobrir o desenlace da história.
Sempre me acostumei a deliciar com os romances do nosso querido prémio Nobel. A sua escrita irreverente e vanguardista, salpicada de ironias e de subtis críticas sempre me fascinou, bem como o facto de Saramago abordar complexas temáticas de uma forma original.
Espero que as minhas palavras não sejam mal interpretadas, pois tenho uma grande admiração por José Saramago e considero-o um dos melhores escritores portugueses, simplesmente, creio que a sua última obra deixa um “gostinho” a pouco naqueles que, tal como eu, leram livros do escritor que os prenderam até ao último minuto.
A estória de A viagem do elefante pode ser resumida em poucas palavras. No século XVI o rei de Portugal, D. João III, oferece um elefante a seu primo arquiduque Maximiliano de Áustria. Este imponente animal, acompanhado pelo cornaca (único indivíduo que realmente o compreende), terá de se deslocar de Lisboa a Viena em condições adversas.
Ao longo do percurso, a população que contacta com Salomão, nome atribuído ao elefante, apresenta reacções antagónicas. Tanto é invadida por um tremendo fascínio e admiração como é assolada por um sentimento de puro terror.
O leitor apenas tem a possibilidade de acompanhar a viagem do elefante e do seu inseparável tratador até Áustria. Claro está que, ao longo da narrativa somos brindados, não só por suaves críticas que nos possibilitam compreender a prepotência e até mesmo as “limitações” daqueles que reinavam na época, mas também pelos tão característicos provérbios que a escrita de Saramago já nos acostumou.
A mim o livro não me tocou como algumas das suas obras já o fizeram, no entanto, note-se que este foi redigido num momento em que o autor se encontrava bastante debilitado e o esforço que fez, por si só, é de louvar.

Um bem-haja a esse grande senhor!

Andreia